sábado, 4 de dezembro de 2010

Adolfo Hitler

O ditador Adolfo Hitler, foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos espectáculos de propaganda, produzindo um poderoso efeito hipnótico sobre os auditórios. 

Os discursos de Hitler eram cuidadosamente ensaiados. Modelações no tom de voz, gestos dramáticos, olhares acutilantes, e expressões faciais acentuavam os momentos mais importantes dos seus discursos. Os discursos abordavam de forma muito emocional quase sempre os mesmos temas: o ódio aos judeus, o desemprego e o orgulho ferido da Alemanha.
Os locais eram decorados de forma a acentuar a sua presença. As paradas militares, bandeiras e símbolos conferiam à sua figura e palavras uma dimensão sobrenatural.

Exemplos de manipulação - 4

Em 1801 a Espanha usurpou um importante concelho português - Olivença. Durante dois séculos a população que não foi exterminada tem vido a sofrer uma brutal manipulação da sua identidade cultural. A língua portuguesa foi proibida, assim como as suas tradições. Até o nome do concelho, das ruas e das suas povoações foram alterados de português para espanhol. A própria história de Olivença  foi modificada de forma a legitimar a usurpação. Para este enorme processo de manipulação foram também aliciados muitos portugueses, que a troco de umas lentilhas participaram neste trabalho de manipulação.     
Objectivo da manipulação: omitir um etnocídio e legitimizar a usurpação de um território português.

Exemplos de manipulação - 3

O incêndio do Reichstag (Parlamento da Alemanha), em 1933, prontamente atribuído por Adolf Hitler aos judeus, foi o pretexto para se difundir a caça aos judeus, eslavos e ciganos neste país. A imprensa alemã, em grande parte dominada pelos nazis, estimulou de forma continuada o ódio a estes grupos sociais e preparou o clima social para a aceitação do seu extermínio.
Objectivo da manipulação: a conquista total do poder pelos nazis.

Exemplos históricos de manipulação - 2

Estação de comboios de Atocha (Madrid). Imagem do brutal atentado terrorista que matou dezenas de pessoas que seguiam neste comboio. 







Logo após o atentado de Madrid de 11 de Março de 2004, o governo espanhol  procurou deliberadamente manipular a comunicação social, veiculando informações no sentido de fazer crer à população que a ETA era a autora do atentado ( A ETA é uma organização fundada em finais dos anos 50 e  que luta pela Independência do país Basco (Euskadia). O próprio primeiro-ministro da altura (José Maria Aznar) pressionou directamente directores de jornais para veicularem uma informação que sabia ser falsa. 
Objectivo da manipulação: vencer uma disputada eleitoral.

Exemplos históricos de manipulação - 1


Os meses que precederam à ocupação do Iraque, em  19 de Março de 2003, assistiu-se a uma campanha de manipulação da informação a nível mundial. 
As principais agências de comunicação social divulgavam informações provenientes das mais diversas fontes e origens, todas num único sentido: sustentarem a tese dos EUA de que o ditador do Iraque possuía armas de destruição maciça .
Em vários países, como Portugal, muitos jornalistas e especialistas em questões militares apoiaram activamente esta campanha preparando a opinião pública para aceitar a inevitabilidade de uma intervenção no Iraque, a fim de acabar com os arsenais e a produção das alegadas armas de destruição maciça.
Um ano depois da ocupação, os governos dos EUA e da Grã-Bretanha  reconheciam que estas armas não existiam e que haviam enganado a opinião pública. Acusaram na altura os seus serviços de espionagem de lhes terem fornecido informações falsas. 
Objectivo da manipulação: o controlo das enormes reservas de petróleo existentes no Iraque. 

A importância dos meios de comunicação.

Os meios de comunicação tornaram-se hoje palcos privilegiados da disputa  política. Acontece que os políticos não estão agora sós, mas confrontam-se agora também com correntes de interesses organizadas que actuando através dos jornalistas e outros agentes, procurando apresentar uma dada opinião como a Vontade da População.   

A única forma dos cidadãos evitarem cair nestes processos de manipulação é tornaram-se mais vigilantes em relação às instituições democráticas e aos orgãos de informação. adoptando uma atitude de permanente reflexão crítica sobre a informação que lhes é fornecida.

Formas difusas de manipulação: diversão.

Uma das formas actualmente mais eficazes de manipular os cidadãos é através da diversão (distração). Quando ocorrem certas situações poucos favoráveis a quem controla os diferentes poderes, os orgãos de comunicação social transformam-se frequentemente em orgãos de distração: a produção de informações  aumenta sem qualquer critério de relevância política, de modo a fazer passar despercebidos factos incómodos ou a torná-los insignificantes pelo excesso de informação.

Formas difusas de manipulação: ilusão da discussão pública.

Para tornar convincente a opinião que produzem, como sendo a opinião dos cidadãos, os jornais ou a televisão utilizavam várias técnicas para criar a ilusão de que são meros instrumentos neutrais que veiculam apenas aquilo que estes discutem e defendem. Neste sentido simulam debates, realizam sondagens, realizam entrevistas ao vivo, etc. Os comentadores ou pessoas que nelas aparecem são frequentemente apresentados como os representantes dos cidadãos. Nada é dito porque foram escolhidos uns e não outros. A ideia é  que o leitor ou o espectador tenha a ilusão que aquele que fala é o representante de todos os trabalhadores, ou de todos os patrões, os estudantes, as mulheres, etc.

Formas difusas de manipulação: informar ou fabricar opiniões?

Os novos meios de comunicação, promovidos e controlados pelos grandes grupos económicos, não se limitaram todavia a serem simples intrumentos de comunicação, passaram também a produzir opiniões de acordo com os interesses de quem controla estes meios.

Dado o seu impacto social desde muito cedo começaram também a produzir ou a forjarem  a opinião pública dos cidadãos. 

A comunicação social nas sociedades democráticas possui uma enorme influência sobre as pessoas, não apenas consegue dizer em que devem pensar, mas também como devem pensar sobre isso . As mais sujeitas a esta influência são naturalmente as que possuem menos recursos intelectuais ou estão pior  preparadas para lidar com os media (televisão, rádios, jornais, etc).   

Formas difusas de manipulação: meios de comunicação.

Com o crescente isolamento surgiu também a necessidade de se encontrar meios de comunicação entre os indivíduos atomizados que íam sendo produzidos. É neste contexto que foram criados e desenvolvidos os novos meios de comunicação de massa: 

- Jornais. Ainda ligada aos espaços públicos, marca a transição para os novos processos de comunicação de massa;
- Rádio. Recepção privada, fora dos espaços públicos;
- Cinema;
- Televisão. Recepção maioritariamente privada, fora dos espaços públicos;
- Internet;
- Telemóveis, e outros. 

Formas difusas de manipulação: destruição dos espaços públicos.

Esta profunda transformação social foi acompanhada pela destruição daquilo que se chama espaço público, os lugares onde há encontros entre os cidadãos. Era nestes espaços públicos que se construía a Opinião Pública.

Formas difusas de manipulação: condições sociais.

As actuais sociedades urbanas nasceram da desagregação das sociedades rurais onde predominavam fortes laços tradicionais (familia, comunidade), contribuindo para o crescente isolamento dos individuos. Sem ligações a famílias, comunidades ou a nenhum território em concreto, tornaram-se desta forma extremanente permeáveis aos processos de manipulação. Não tendo ninguém com quem discutir a informação que recebem tendem a acreditar no que dizem os meios de comunicação. 

Formas difusas de manipulação: o que são?

Os processos de manipulação da informação são todavia mais amplos, e estão largamente disseminados nas sociedades democráticas ocidentais, utilizando-se técnicas muito sofisticadas, mas não menos eficazes, nomeadamente porque os cidadãos estão desprevenidos.

Formas directas de manipulação: a propaganda.

Na propaganda, a informação é forjada de forma a provocar uma adesão imediata a certos estímulos, explorando para tal as emoções ou os medos das pessoas.
Durante a 1ª. Guerra Mundial (1914-1945), as técnicas de propaganda aos serviços dos Estados tornaram-se enormes máquinas de mobilização de massa, dotadas de enormes recursos técnicos, que foram depois eficazmente aplicados e desenvolvidos pelos diferente regimes totalitários.     

Em Portugal, uma das primeiras acções da ditadura (1926-1974) foi a de criar importantes orgãos de propaganda do regime. O regime de nazi, foi contudo aquele mais desenvolveu as técnicas de propaganda  e as aplicou com grande êxito. No Congresso de Nuremberg, em 1936, Hitler afirmou: "a propaganda conduziu-nos ao poder, a propaganda permitiu-nos conservar depois o poder, a propaganda, ainda, dar-nos-à a possibilidade de conquistar o mundo".  Uma das suas acções mal conquistou o poder foi criar um Ministério da Propaganda, dotando-o de enormes recursos. A propaganda nazi assentava em ideias muito simples, que podiam ser facilmente apreendidas pelas pessoas. Estas ideias apelavam à emoção, estimulando reacções de medo, ódio, violência e desejo de vingança.

Formas directas de manipulação: a censura.

Na censura, a informação é manipulada não apenas tendo em vista omitir factos relevantes, mas também deformar o conteúdo da informação veiculada de modo a que a mesma se ajuste às ideias dos censores.


Em Portugal, a censura foi um dos instrumentos mais utilizados pela ditadura  (1926-1974) para a manipulação da opinião pública: a informação que era autorizada era previamente mutilada. A restante era simplesmente proibida.

Destruição pública de livros em Berlim (10 de Maio de 1933).
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Na Alemanha nazi (1933-1945) ficaram tristemente célebres a destruição pública de milhões livros, mas também de obras de arte de autores considerados "degenerados" pelo regime hitleriano.

Formas directas de Manipulação: o que são?

As formas de manipulação mais conhecidas são as realizadas pelos regimes ditatoriais.
Neste caso identifica-se facilmente quem as faz, com que objectivos e os meios que utiliza.
Meios utilizados: a censura e a propaganda.

Persuasão e manipulação: características.

Persuasão:
  • É o bom uso da retórica;
  • Tenta levar-se um auditório a aderir a uma tese ou a uma acção;
  • Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para reflectirem e decidirem individualmente;
  • O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório;
  • Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são respeitados por aquele;
  • Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência;
  • Há autores que chamam à persuasão "retórica branca" ou persuasão racional;
  • Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um;
  • O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão deles;
  • A persuasão é moralmente aceite porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".
Manipulação:
  • É o mau uso da retórica;
  • É fazer com que outros aceitem ou realizem algo contra os seus melhores interesses;
  • Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão dos ouvintes;
  • O manipulador procura usar a seu favor as limitaçãoes da racionalidade do auditório;
  • Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são usados como instrumentos ao serviço do manipulador;
  • Os objectivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência;
  • Há autores que chamam à manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional;
  • O manipulador tenta evitar o espírito crítico e procura desviar as atenções do próprio tema que se devia debater, anulando ao máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de avaliação da situação;
  • Na manipulação há um desprezo claro pela individualidade e liberdade de decisão dos ouvintes;
  • O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele usa em proveito próprio;
  • A manipulação é moralmente inaceitável porque há má fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como meios ao serviço de alguém com objectivos ocultos.

Estratégias e técnicas para a manipulação da opinião pública e da sociedade

1- A estratégia da diversão

Elemento primordial do controle social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e da mutações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio contínuo de distracções e informações insignificantes.

A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.

"Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar, voltado para a manjedoura com os outros animais"


2- Criar problemas, depois oferecer soluções
Este método também é denominado "problema-reacção-solução". Primeiro cria-se um problema, uma "situação" destinada a suscitar uma certa reacção do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público passe a reivindicar leis securitárias em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia do esbatimento
Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, de forma gradual, ao longo de 10 anos. Foi deste modo que condições sócio-económicas radicalmente novas foram impostas durante os anos 1980 e 1990. Desemprego maciço, precariedade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não asseguram um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se houvessem sido aplicadas brutalmente.

4- A estratégia do diferimento
Outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular é apresentá-la como "dolorosa mas necessária", obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação no futuro. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque a dor não será sofrida de repente. A seguir, porque o público tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que "tudo irá melhor amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Finalmente, porque isto dá tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.
Exemplo recente: a passagem ao Euro e a perda da soberania monetária e económica foram aceites pelos países europeus em 1994-95 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais do FTAA (Free Trade Agreement of the Americas) que os EUA impuseram em 2001 aos países do continente americano ainda reticentes, concedendo uma aplicação diferida para 2005.

 5- Dirigir-se ao público como se fossem crianças pequenas
A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizadores, muitas vezes próximos do debilitante, como se o espectador fosse uma criança pequena ou um débil mental. Exemplo típico: a campanha da TV francesa pela passagem ao Euro ("os dias euro"). Quanto mais se procura enganar o espectador, mais se adopta um tom infantilizante. Porquê?
"Se se dirige a uma pessoa como ela tivesse 12 anos de idade, então, devido à sugestibilidade, ela terá, com uma certa probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão destituída de sentido crítico como aquela de uma pessoa de 12 anos".
6- Apelar antes ao emocional do que à reflexão
Apelar ao emocional é uma técnica clássica para curto circuitar a análise racional e, portanto, o sentido crítico dos indivíduos. Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para ali implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos...

 7- Manter o público na ignorância e no disparate
Actuar de modo a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controle e a sua escravidão.
"A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser da espécie mais pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores". (cf. "Armas silenciosas para guerra tranquilas" )

8- Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade
Encorajar o público a considerar "fixe" o facto de ser idiota, vulgar e inculto...

 9- Substituir a revolta pela culpabilidade
Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável pela sua infelicidade, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, ao invés de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo se auto-desvaloriza e auto-culpabiliza, o que engendra um estado depressivo que tem como um dos efeitos a inibição da acção. E sem acção, não há revolução!..

10- Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios
No decurso dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto física como psicologicamente. O sistema chegou a conhecer melhor o indivíduo médio do que este se conhece a si próprio. Isto significa que na maioria dos casos o sistema detém um maior controle e um maior poder sobre os indivíduos do que os próprios indivíduos.

Quem e para que se manipula?

Quem manipula?
Manipula aquele que quer vencer-nos sem convencer-nos, seduzir-nos para que aceitemos o que nos oferece sem dar-nos razões. O manipulador não fala à nossa inteligência, não respeita nossa liberdade; actua astutamente sobre nossos centros de decisão a fim de arrastar-nos a tomar as decisões que favorecem seus propósitos.
Para que se manipula?
A manipulação corresponde, em geral, à vontade de dominar pessoas e grupos em algum aspecto da vida e dirigir sua conduta. A manipulação comercial quer converter-nos em clientes, com o simples objectivo de que adquiramos um determinado produto, compremos entradas para certos espectáculos, nos associemos ao clube tal… O manipulador ideólogo pretende modelar o espírito de pessoas e povos a fim de adquirir domínio sobre eles de forma rápida, contundente, massiva e fácil. Como é possível dominar um povo desta forma? Reduzindo-o de comunidade a massa .

O que é manipular?

Manipular consiste em paralisar o juízo e em tudo fazer para que o receptor abra ele próprio a sua porta mental a um conteúdo que de outro modo não aprovaria, ou seja, é uma prática abusiva do discurso, na medida em que obriga o receptor a aderir a uma dada mensagem, é uma maneira de iludir.